obra de Edvard Hopper |
Tenho fobia aos compromissos, nunca escreverei com método e regularidade, mas para começar deixo aqui a carta duma mulher "exilada voluntaria"em Espanha há quarenta anos...
CARTA A UMA AMIGA VIRTUAL
"Os desígnios da Providência são inescrutáveis", nada acontece porque sim, eu devo ter chegado aqui sem querer chegar, mas no fundo querendo, ninguém me obrigou, deve haver uma razão mais forte que as minhas intenções e julgo bem que responde a uma certa necessidade de regresso — não físico, que seria mais fácil. De certa forma trata-se de recuperar uma parcela de mim a que o destino não deu nenhuma saída.
Não quero pôr-me intensa, mas a verdade é que estou a reviver consigo coisas que estavam completamente adormecidas — o meu português escrito, por exemplo, que não praticava desde que o telefone começou a ser de graça, e que é endiabradamente parecido com o espanhol (devo confessar que quando você reconheceu as minhas faltas de ortografia me senti como o leão moribundo da fábula, deu-me uma guinada o orgulho...porque eu também sou de Letras e também fui uma boa aluna, palavra).
Enfim, querida desconhecida, é bom falar-lhe do que gosto, do que penso e do que sinto e saber que me compreende. Compartir é tão estupendo como difícil, com os que estão à nossa volta nem sempre é possível, a gente cria uma imagem de dura, os amigos estão noutra onda, os filhos começam a estar longe mesmo quando estão perto, etc!
Um dia encontrei-a aqui por essas casualidades da vida e pensei, "porque não? talvez funcione, quem sabe..." Puro instinto.
Beijinhos
Gostei muito da carta da sua amiga! Sabe, na vida tem de se sair para fora (dentro de nós). Nunca "fechar" portas nem janelas: esperar um sopro de vento, o ar tépido da Primavera, ouvir um pássaro lá fora (acredite: há dias, ao acordar, estive a ouvir encantada dois passarinhos -ou três...- que cantavam nas árvores que há em frente do meu quarto. Tenho a sorte, sabe, de ter o liceu cheio de árvores -eucaliptos, salgueiros, talvez magnólias que, por ironia do destino, "ajudei" a plantar no primeiro ano em que aqui ensinei (e por cá fui ficando até partir...).
ResponderEliminarBem ia perdendo o fio...Mas o que lhe queria dizer é o seguinte: é sempre tempo de "abrir a janela", ver cá por dentro o que se passa e sair para a rua, levar o nosso "sol". Descobri uma frase linda de Raul Brandão: "o sol está dentro de nós..."
Venha cá para fora, escreva! "Bailemos amigas, sob as tais avelaneiras..." (lembra-se, foi assim que começámos a "bailar", quer dizer, a falar...
Escreva sem pensar, escreva, como dizia uma escritora (sul-africana, creio, Nadine Mortimer): "escrevo como se estivesse morta..."
Sem se preocupar com o resto.
Eu estou a ouvir...
Beijinhos e FORZA! como diziam os meus smigos italianos (mas perderam, coitados...)
Já agora: viu o maravilhoso filme de Max Ophüls "Carta de uma desconhecida"? Vi os seus gostos -tão parecidos com os meus, no perfil...
ResponderEliminarEu também gostei da sua carta que agradeço muito.
ResponderEliminarVamos tentar que dentro de nós nunca se faça de noite,como o nome do meu blog.
Não me lembro de ter visto esse filme,mas sim de ler o livro de Stefan Zweig,e embora não recorde nada da história,sei que gostei imenso,há mil anos,e ficou-me o título,que agora "plagiei"...
Hoje joga Portugal-Espanha.A minha irmã mais "pequena",que adoro,mandou-me o seguinte correio:"espero que grites pelo teu país".No me lo puedo creer!!
Até breve,beijinhos.
Vai ser um grave "dilema"! Qual "é" o seu país?...
ResponderEliminarMuitas vezes na vida fiz o "tiffo" pela Itália, a nossa equipa foi "La Roma" anos seguidos (só o meu filho "tiffava" pelo Inter, em pequeno).
Mas pus sempre Portugal à frente...
Hoje, confesso, que estou do lado do nosso (meu e seu) país...
Já estava a ver que não respondia! Claro que nunca descerá a noite sobre a nossa amizade. Eu sou muito fiel às amizades -novas ou velhas- e nunca deixo perder o "fio"... Farto-me de escrever postais de all over the world, gasto fortunas nisso... A maior parte não liga, ou fica cheia de remorsos por não fazer o mesmo.
Mas fico contente porque agora muita gente (as minhas alunas da noite! quando viajam...) me manda un recuerdo...
O filme (como o livro) é muito bom também.
Bom jogo!
Um beijo
Siempre me gustaron tus cartas. Ojalá retomes la costumbre de escribir que tienes tan olvidada.
ResponderEliminarTe quiero. Sara.
Yo tambiém te quiero,va a resultar ser más facil escribirlo que decirlo...¡Pues adelante!
ResponderEliminarGostei do teu blog!Gostei antes de mais pelo título "Ainda é de dia" eu que já experimentei a noite e que lutei desesperadamente para voltar a desfrutar de tudo o que, à parte esse episódio, a vida me tem dado de bom.
ResponderEliminarGostei por ver que finalmente decidiste pôr à prova a tua capacidade de escrever e por teres escolhido a língua portuguesa, que eu pensava ser já para ti um pormenor pouco relevante...
Continua! Serei tua leitora assídua.
Beijos
Tói
Eu também gostei que gostasses,não sabes quanto!
ResponderEliminarO título é plagiado dum livro de Miguel Delibes,oxalá fosse da minha colheita...
Vivo no presente,claro,mas isso não significa que não leve o passado sempre comigo,como um valioso tesouro.
Não sabes quanto te admiro,tenho mesmo a impressão de que não sabes muito de mim,mas o que importa é que nos queremos tanto.
Começo a suspeitar que por computador a comunicação é mais aberta,há menos pudor de cair no sentimental...É curioso.
Beijinhos e obrigada
Vi a Carta a uma desconhecida que adorei.
ResponderEliminarTenho o livro, mas ainda não o li.