lunes, 6 de mayo de 2013

MADAME BOVARY






óleo de William John Leech

El que más y el que menos lleva en los genes el síndrome del bovarismo, siente por veces el intenso deseo de una vida distinta, y aunque eso no lleve a la autodestrucción como la protagonista de Flaubert, que no pudo soportar su propia mediocridad, no aceptarnos tal como somos llega a provocar bastante sufrimiento.
En la temprana edad, cuando todo puede acontecer todavía, soñamos con alcanzar la cima inexpugnable de cualquier gloria, la de la belleza, la pasión, la sabiduría, el poder, la felicidad suprema...
Más tarde, cuando empezamos a tratar con los desengaños, es a los demás que a menudo queremos cambiar, lo que bien puede tratarse de una frustración por no poder cambiarnos a nosotros mismos: creamos incluso una versión alternativa que mejore nuestra realidad, para protegernos, para que así, a caballo entre dos mundos, ya ni sepamos quien somos.
Con el humo de un plato de comida caliente — la única verdad absoluta — nos suben desde el fondo del alma bocanadas de amargura que perfumamos con mentiras piadosas.
Nada ni nadie es como su versión ideal e imposible, pero con los años llegamos a ser capaces de mirar de frente nuestra pequeñez, y si conseguimos aceptarla y aceptarnos tal como somos, entonces habremos empezado a ser libres.

Ò tocadora de harpa, se eu beijasse
Teu gesto, sem beijar as tuas mãos!
  E beijando-o descesse p´los desvãos
     Do sonho, até que enfim o encontrasse
                  ...


                                                                               Fernando Pessoa  


óleo de Joseph Karl Stieler

7 comentarios:

  1. No sobra ni una palabra,María, todo cierto, todo posible en nuestro complejo interior. Cuantos más años, más libres por dentro, lástima que la libertad llegue tan tarde.
    Un abrazo.
    Manuel

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  2. Que pena que só comecemos a ser livres depois de muito vivermos.
    Mas vale mais tarde do que nunca!
    As pinturas são lindas. Gosto muito da primeira.
    Um besito para ti!

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  3. Não sei se estou completamente de acordo: há muita gente que não se liberta nunca.
    Outros que se libertam cedo e mal...
    E não são os anos que trazem a aceitação da mediocridade quando ela existiu, acho.
    Aliás este discurso não o consigo identificar contigo (nem comigo, já agora)- porque além de não te ver nunca com qualquer "pequenez".

    "Nada ni nadie es como su versión ideal e imposible, pero con los años llegamos a ser capaces de mirar de frente nuestra pequeñez", dizes. E eu não aceito.

    Teimosamente não quero, nunca aceitarei: velha sim, claro, mas não diminuída, porque o que "nos" anima - e não falo da alma, mas de vontade de ser- não admite essa pequenez!

    "Nada ni nadie es como su versión ideal e imposible, pero con los años llegamos a ser capaces de mirar de frente nuestra pequeñez"

    E sei que o olhar para o espelho é apenas vermos a pessoa que mais nos compreende no mundo e isso é maravilhoso, é a maior liberdade...

    Fernando Pessoa tinha uma ambição desmedida e impossível: ser e não ser, pensar e sentir & etc. às vezes a sua lucidez enerva-me!

    "Ò tocadora de harpa, se eu beijasse
    Teu gesto, sem beijar as tuas mãos!"
    Digo-lhe: então, ouve a harpa!
    Beijinhos minha querida e desculpa esta impertinência (da idade, claro!)

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  4. Pessoalmente, cada vez me sinto mais pequena e mais livre ao mesmo tempo. Livre de ataduras e de preconceitos, e pequena como um passarinho que só aspira a voar...
    Entendo tão bem o Pessoa, que quando era nova às vezes assustava-me, não queria ser neurótica como ele, já que nunca seria um génio, pelo menos ser normalita!
    Até amanhã, uma noite descansada. Sueña con los angelitos, como dizem aqui, Beijinho

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  5. Pequena como um passarinho, gosto e posso ver-te assim!Medíocre, nunca!
    O Pessoa era terrível! Assusta tanto negativismo. Bem, depois lá vem o gato...
    beijinhos

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  6. O conceito de mediocridade é muito relativo, comparado com o talento, penso que a maioria somos mediocres, a primeira eu, sem complexos. Não somos obrigados a sair génios, e podemos ser muito felizes na nossa modéstia!
    A pronto, arrivederci!!

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  7. Preferi sua resposta:

    Pessoalmente, cada vez me sinto mais pequena e mais livre ao mesmo tempo. Livre de ataduras e de preconceitos, e pequena como um passarinho que só aspira a voar...
    Entendo tão bem o Pessoa, que quando era nova às vezes assustava-me, não queria ser neurótica como ele, já que nunca seria um génio, pelo menos ser normalita!

    Tem daqui do Brasil, uma admiradora, assim, desse jeito sem ataduras e pequena como um passarinho.

    Que seu voo seja abençoado,

    muiiiitas saudades nossas.

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