De repente não tenho idade, e volto a ser criança por dentro, regresso a um mundo que já não é, e a outras noites quentes de céu estrelado, de harmonias e ternuras, dum silêncio povoado de grilos, de jasmins e madressilvas, volto a sentir essa ingénua certeza de que todas as coisas estão em ordem, estão onde têm que estar, em lugar seguro, e ainda são os mesmos os risos e os sonhos, com pais, irmãos e amigos que estão sempre ao meu lado.
Respiro devagar, de regresso a essa ilha perdida, e volto a sentir-me eu, volto a reconhecer-me, desaparecem as saudades e os medos, para de novo ser tudo fácil e possível até que amanheça outra vez e as estrelas se apaguem.
Porque a Lua iluminou tudo e não viu nada, não tem memória, volto com ela à casa grande da inocência e da alegria, ao primeiro beijo, ao primeiro amor ou a esse tango que foi um sonho de vida — ou a essa vida que foi um sonho de tango — que mais dá, que importa já nada?
Tudo mudou, menos a Lua, "Luna mía de ayer / hoy de mi olvido", R. Alberti.
A Lua é boa companheira porque renasce em cada noite de Agosto como se não levasse aí uma eternidade, como se não tivesse visto naufragar tantas certezas, ela não sabe nada do que nos deram e nos roubaram os anos.
..."Era, no copo, além do gim, o gelo;
além do gelo, a roda de limão...
Era a mão de ninguém no meu cabelo.
Era a noite mais quente deste Verão.
(David Mourão Ferreira)
É porque o tempo ensina e a gente aprende, que deixamos de aferrar-nos a sonhos impossíveis, e como dizia Borges, "aprendemos a cultivar o nosso próprio jardim, em vez de esperar que outros nos levem flores".
Maria, olá!
ResponderEliminarGostei muito! Muito mesmo. A lua de Agosto, as recordações, a frescura de ti -de agora e desses tempos-,está lá tudo...E eu vi.
Continua! E dou-te os parabéns, querida amiga internética.
M.J
Gostei dos versos do David, que era um grande poeta de amor e que esqueceram...
(lembro-me de uma poesia -uma canção?- que aprendi na infância:
"Luna, lunera, cascabellera (??)/di a mi querida, por Diós que me quiera..."
(está tudo errado..)
" Luna, lunera,cascabelera..." é uma linda canção de embalar.
ResponderEliminarAlguns versos de David Mourão Ferreira permanecerão, não pode ser doutro modo.Como estes:
"Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio..."etc
Não me chames internética,please,soa-me a metal!!!
Beijinhos — internéticos. Que espanto!
Tens razão, há coisas que "ficam", não importa as modas,etc.
ResponderEliminarEu leio pouco poesia, mas gosto do David que foi meu professor de Teoria da Literatura na Faculdade. Era um grande professor!Sabia ensinar, interessar os alunos,tinha cultura e era inteligente e sensível.Não havia assim muitos.
Bom week end e nada de coisas "metálicas"!
Boa noite "luna lunera cascabelera..."
Sus reflexiones e imágenes son pura poesía...
ResponderEliminarMe apetecía dedicarle este " Claro de Luna", de Debussy...
http://www.youtube.com/watch?v=l_V0ERnsklo&feature=related
Un saludo de Jaime, desde Madrid.
Hola Jaime, gracias por sus palabras, y por esse "Claro de Luna"!
ResponderEliminarLe gustaron las fotos? Las hice desde mi cama,(la de la gaviota,ya estaba amaneciendo,fué bonito).Un saludo,María
Estou quase em cima da hora. Não tenho tempo de ler o texto com calma, mas as fotos estão FABULOSAS! parecem pinturas. A primeira é lindíssima!
ResponderEliminarUm beijinho e até logo.
Volto cá.
O "efeito pintura" é um arranjo con o ordenador, se ainda não sabes tens que aprender.
ResponderEliminarA verdade é que também gosto desta foto, vi amanhecer ( fiz a outra de noite), havia um luar incrível, fiz montes de fotos para conseguir estas duas.
Um beijo e obrigada por vir
Que lindo texto Maria.
ResponderEliminarGostei tanto.
Alguma melancolia, tanta sabedoria e beleza.
Gostei muito.
Não conheço isso do "efeito pintura", mas também gosto das fotos "ao natural".
Mas estas estão lindíssimas.
Um beijinho