viernes, 30 de julio de 2010

NOITES QUENTES DE VERÃO










No lugar onde moro a Lua tem o céu todo para ela, e já quase de madrugada, redonda e atrevida, sempre a mesma e sempre outra, rodeada de luz e de silêncio, enquadra-se no balcão aberto do meu quarto e convida-me a sonhar como se o tempo  tivesse parado por um instante: e então eu " deixo tudo " para ir-me com ela...
De repente não tenho idade, e volto a ser criança por dentro, regresso a um mundo que já não é, e a outras  noites quentes de céu estrelado, de harmonias e ternuras, dum silêncio povoado de grilos, de jasmins e  madressilvas, volto a sentir  essa ingénua certeza de que  todas as coisas estão em ordem, estão onde têm que estar, em lugar seguro, e ainda são os mesmos os risos e os sonhos, com pais, irmãos e amigos que estão sempre ao meu lado.
Respiro devagar, de regresso a essa ilha perdida, e volto a sentir-me eu, volto a reconhecer-me, desaparecem as saudades e os medos, para de novo ser tudo fácil e possível até que amanheça outra vez e as estrelas se apaguem.
Porque a Lua iluminou tudo e não viu nada, não tem memória,  volto com ela à casa grande da inocência e da alegria, ao primeiro beijo, ao primeiro amor ou a esse tango que foi um sonho de vida — ou a essa vida que foi um sonho de tango — que mais dá, que importa já nada?
Tudo mudou, menos a Lua, "Luna mía de ayer / hoy de mi olvido", R. Alberti.
A Lua é boa companheira porque renasce em cada noite de Agosto como se não levasse aí uma eternidade, como se não tivesse visto naufragar tantas certezas, ela não sabe nada do que nos deram e nos roubaram os anos.  


         ..."Era, no copo, além do gim, o gelo;
             além do gelo, a roda de limão...
             Era a mão de ninguém no meu cabelo.
             Era a noite mais quente deste Verão.
             (David Mourão Ferreira) 


É porque o tempo ensina e a gente aprende, que deixamos de aferrar-nos a sonhos impossíveis, e como dizia Borges, "aprendemos a cultivar o nosso próprio jardim, em vez de esperar que outros nos levem flores".




8 comentarios:

  1. Maria, olá!
    Gostei muito! Muito mesmo. A lua de Agosto, as recordações, a frescura de ti -de agora e desses tempos-,está lá tudo...E eu vi.
    Continua! E dou-te os parabéns, querida amiga internética.
    M.J
    Gostei dos versos do David, que era um grande poeta de amor e que esqueceram...
    (lembro-me de uma poesia -uma canção?- que aprendi na infância:
    "Luna, lunera, cascabellera (??)/di a mi querida, por Diós que me quiera..."
    (está tudo errado..)

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  2. " Luna, lunera,cascabelera..." é uma linda canção de embalar.
    Alguns versos de David Mourão Ferreira permanecerão, não pode ser doutro modo.Como estes:

    "Olho a roupa no chão: que tempestade!
    Há restos de ternura pelo meio,
    como vultos perdidos na cidade
    onde uma tempestade sobreveio..."etc

    Não me chames internética,please,soa-me a metal!!!
    Beijinhos — internéticos. Que espanto!

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  3. Tens razão, há coisas que "ficam", não importa as modas,etc.
    Eu leio pouco poesia, mas gosto do David que foi meu professor de Teoria da Literatura na Faculdade. Era um grande professor!Sabia ensinar, interessar os alunos,tinha cultura e era inteligente e sensível.Não havia assim muitos.
    Bom week end e nada de coisas "metálicas"!
    Boa noite "luna lunera cascabelera..."

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  4. Sus reflexiones e imágenes son pura poesía...

    Me apetecía dedicarle este " Claro de Luna", de Debussy...

    http://www.youtube.com/watch?v=l_V0ERnsklo&feature=related

    Un saludo de Jaime, desde Madrid.

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  5. Hola Jaime, gracias por sus palabras, y por esse "Claro de Luna"!
    Le gustaron las fotos? Las hice desde mi cama,(la de la gaviota,ya estaba amaneciendo,fué bonito).Un saludo,María

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  6. Estou quase em cima da hora. Não tenho tempo de ler o texto com calma, mas as fotos estão FABULOSAS! parecem pinturas. A primeira é lindíssima!
    Um beijinho e até logo.
    Volto cá.

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  7. O "efeito pintura" é um arranjo con o ordenador, se ainda não sabes tens que aprender.
    A verdade é que também gosto desta foto, vi amanhecer ( fiz a outra de noite), havia um luar incrível, fiz montes de fotos para conseguir estas duas.
    Um beijo e obrigada por vir

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  8. Que lindo texto Maria.
    Gostei tanto.
    Alguma melancolia, tanta sabedoria e beleza.
    Gostei muito.

    Não conheço isso do "efeito pintura", mas também gosto das fotos "ao natural".

    Mas estas estão lindíssimas.
    Um beijinho

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